terça-feira, 22 de junho de 2010

ESTAS MINHAS MULHERES

ESTAS MINHAS MULHERES

São tantas as que carrego que há dias em que as tenho como fato. Detenho-as e domino-as todas. Filha, mãe, dona de casa, amiga, irmã. Mas há dias em que elas me detém como um fado – triste fado português. Cantoria nostálgica do que se foi e do que não virá.

Esta mulher se apodera de mim e não consigo exorcizá-la. Faz-me lembrar do tempo em que eu buscava o amor perfeito dentro dum jarro para enfeitar-me os claros, e para perfumar minhas ilusões.

Estas rugas. Que fazem estas rugas pirracentas nos meus cantos: dos olhos, do queixo, da alma? E estas renúncias a assistir a cada dia a tal felicidade escorrer pelas minhas mãos abertas que não querem cuidar, mas ser cuidadas. Que já não querem ser responsáveis por nada. Querem colo.

Tenho que matar esta mulher. Ela queima, ela me esquarteja e ao mesmo tempo renasce como uma menina e espera o amor perfeito. Ele está dentro do jarro. Quando anoitece sinto-lhe o perfume e saio a buscá-lo.

O amor perfeito está muito perto e num susto vou apanhá-lo.

Rosy Selaro

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22.6.10 – 14h20min