quarta-feira, 30 de setembro de 2009

POEMA DE ADÉLIA PRADO - "CASAMENTO"

Casamento

Adélia Prado

Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como "este foi difícil"
"prateou no ar dando rabanadas"
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.
Texto extraído do livro "Adélia Prado - Poesia Reunida", Ed. Siciliano - São Paulo, 1991, pág. 252.
Saiba mais sobre Adélia Prado e sua obra em "Biografias".


A escolha deste poema de Adélia Prado é proposital, é um contraponto ao texto que escrevi abaixo.

Na análise deste poema vai aquela coisa dos casamentos que “duram por inércia”, homens porque são práticos e mulheres porque gostam de conforto, mas analisem comigo.

Assim mesmo diria qualquer mulher: “Levantar-me na madrugada para limpar peixe. Valha-me Deus!” Pois a personagem do poema não só se levanta como participa de cada etapa e é lindo quando ela diz “ O silêncio de quando nos vimos pela primeira vez atravessa a cozinha como um rio profundo.”

Há aí, as entrelinhas do Poema. Já pensaram nas víceras dos animais, do cheiro, do cheiro impregnando nas mãos? Não, ela não vê nada. Aquele ainda é seu noivo, ela ainda é sua noiva.

“Por fim os peixes na travessa”, diz ela. “Vamos dormir. Coisas prateadas espocam: somos noivo e noiva.” Que metáfora maravilhosa para quem acabou de limpar peixe.

Daí o meu declarado amor por Adélia Prado. Essa CUMPLICIDADE que só os amores de verdade têm, me toca e me abala como bomba. Não havia cheiro, víceras, sono, havia amor.

Hoje parece que há muito pouca cumplicidade. O importante do casamento é a festa. A separação por certo já está prevista, depois de seis meses, no máximo.

Persegui essa CUMPLICIADE a vida toda! Mas vejo que ficou só para Adélia Prado em seu magnífico poema CASAMENTO.


Espero que tenham gostado, como eu.

Rose Selaro
“Escrever é Pensar”
30.9.09 - 15h39min

A redação como instrumento formador de consciência crítica - por Yuri Monteiro Brandão

O Blog "Escrever é Pensar"e o "Curso de Redação Escrever é Pensar" têm o prazer de publicar esse trabalho de Yuri Monteiro Brandão, dando aos interessados, que teveriam ser todos os que escrevem, a dimensão do que é "Redigir".



Apreciem e aprendam como eu aprendi.



Espero ter colaborado.



Rose Selaro



30.9.09 - 15h01mim






Texto: A Redação como instrumento formador de consciência crítica. Por Yuri Monteiro Brandão

Prezado professor Dílson, a apresentação "TEMA/TÍTULO" deve-se ao fato de que, na verdade, temos um título, pois um tema exigiria um verbo. Comumente tal distinção até parece passar despercebida. Seja como for, o importante mesmo é a idéia contida na frase, no enunciado.TEMA/TÍTULO: "A REDAÇÃO COMO INSTRUMENTO FORMADOR DE CONSCIÊNCIA CRÍTICA".Redigir é, antes de tudo, um ato de reflexão, de consciência crítica. A prática da redação, como todo exercício intelectual, propicia ao redator extraordinária lucidez de reflexos capaz de absorver os mais complexos ordenamentos de natureza científica, filosófica e humana. Daí o vezo de considerar-se o trabalho dissertativo – a redação propriamente dita, instrumento formador de consciência crítica.Do ponto de vista científico, não há negar: o estágio "superior" a que chegou o homem moderno justifica, de certa forma, sua condição de ser racional. Gradativa e lentamente, estabeleceu princípios marcantes que, sem dúvida, refletem também uma consciência crítica, um juízo de valor: a adequação vocabular, a maneira precisa da expressão referencial para instituir uma ordem científica. Esses conceitos técnicos traduzem, de algum modo, um progresso lingüístico, uma expressão científica, exata, perfeita.No campo filosófico, poder-se-ia afirmar, com mais justeza, a importância da expressão escrita. Sem consciência, sem reflexão superior, o homem rastejaria ao mais sórdido nível irracional. No entanto, contrariamente a todos os demais seres vivos, a criatura humana manifesta sua soberania graças ao dom da palavra, da comunicação, da expressão crítica.Quem disserta, pois, elabora verdades novas e novas formas de convencimento. E, ainda, adquire trato político. Renova, indubitavelmente, padrões de conduta social, intensificando, assim, novos juízos de valor. Quanto mais se busca o discernimento, tanto se aproxima da verdade que a todos, sobejamente, persuade. A arte da boa expressão é realmente inesgotável. Amanhã ou depois, aqui ou alhures, assume novas feições, para melhor traduzir – mais criticamente – todo o concurso das atividades humanas.E todo esse processo de refazimento está calcado na leitura, na reflexão, na crítica constante do homem em relação ao universo. Sem essa consciência viva, sem esse julgamento crítico, desmereceria o mesmo toda a razão de ser.Maceió/AL, 18/10/04,Yuri Monteiro Brandão – YMB – AL.Blog Cultural Textos & Contextos.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

DICA DE GRAMÁTICA

USO DA CRASE ANTES DA PALAVRA "HORA" E ANTES DE "NUMERAL"



Use a crase antes de numeral, representando "hora", quando explicita ou subentendida. Veja que nos exemplos há também "crase que se refere só a numeral).

Exemplos:

Chegamos às 20 horas.
Começarei a trabalhar às oito horas. (veja que antes de verbo no infinitivo não há crase - verbo trabalhar).
O capítulo vai da página doze à vinte. ( "à" referindo-se a numeral).
Ficaremos na loja de nove às dezoito.

Agora, não confunda o artigo indefinido "uma" com o numeral "uma" hora.

Aí teremos: Falei a uma moça que me atendeu. (não há crase,"uma" aqui é artigo indefinido).

MAS EM: Voltaremos à uma hora. (temos um numeral representando hora, aqui há crase).


Espero ter colaborado
Rose Selaro


18.9.09 - 16h46min

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

DICAS DE REDAÇÃO

COERÊNCIA E COESÃO

Duas palavras que nos metem medo, até porque não sabemos definí-las e não sabemos que papel elas ocupam no texto que escrevemos:

O que é coerência textual?
É o significado do texto como um todo, ou seja, a coerência é a possibilidade de estabelecer no texto alguma forma de unidade ou relação entre suas partes (palavras, frases, parágrafos).

ex: Fiz duas operações, uma no estômago outra em São Paulo.

Epa! Tem algo errado aí.

Sim, nós temos um frase organizada sintaticamente mas sem coerência, ou seja, sem sentido, sem significado.

Então ficaria: Fiz duas operações, uma no estômago, outra no ouvido.

Agora sim!
É claro que este exemplo é um exagero, mas é comum lermos ou escrevermos textos que vão perdendo a coerência gradativamente e se tornam absolutamente sem significado.

E o que é coesão textual?
É o bom uso dos conectores. Aquelas palavrinhas para as quais nós nunca damos importância, porque elas não têm significado próprio, mas que se mal utilizadas são mestres em tirar a coerência ( o sentido do nosso texto).

Estou falando dos conectivos: mas, porém, já que, pois, etc. Os denotadores de inclusão: até, mesmo, também, etc. Os denotadores de exclusão: só, apenas, etc. E uma gama de outros elementos coesivos que se não forem bem utilizados se tornam muletas e obscurecem nosso texto, tirando sua qualidade principal que é a clareza.

Veja o exemplo: "Tratava-se de uma pessoa. Essa pessoa tinha consciência. Seu lugar só poderia ser aquele. Lutaria até o fim para mantê-lo.

VAMOS UTILIZAR OS CONECTIVOS?

"Tratava-se de uma pessoa que tinha consciência e seu lugar só poderia ser aquele, pois lutaria até o fim para mantê-lo.

Coerência (sentido) e coesão (forma) só se separam para efeito de estudo, porque para o texto são inseparáveis.

Espero ter colaborado.
Rose Selaro - 11.9.09 - 17h39min

domingo, 6 de setembro de 2009

VERBOS HAVER E FAZER

Como utilizar corretamente os verbos "haver e fazer" nas situações impessoais.

Vejamos:

É comum ouvirmos "Fazem 10 anos que não vejo fulano. NÃO, NÃO FAZEM 10 ANOS.

Frase correta: Faz (na 3ª pessoa do singular) 10 anos que não vejo fulano.

Quando se refere a tempo decorrido o verbo fazer fica sempre no singular (até porque o tempo não faz nada, nós é que agimos no tempo).



Quanto ao verbo HAVER significando tempo decorrido e no sentido de existir, também é impessoal e também fica na 3ª pessoa do singular.

ex. Há dias não saio de casa. Se transferido para o verbo fazer "Faz dias que não saio de casa."

Erro muito comum: Há muito anos atrás. Há, com H, já denota tempo passado. "esse atrás" é uma redundância, então diga: Há muito anos estivemos no Rio ou Muitos anos atrás estivemos no Rio.


Havia muitas pessoas na sala. "Jamais" haviam muitas pessoas na sala.
Houve problemas difíceis naquela época. "Jamais"Houveram problemas difíceis.

O verbo "haver", neste caso, está no lugar do verbo existir e, portanto, é invariável.


Mas se você disser: Eles se houveram bem nas provas, pena a reprovação. (se sairam bem)
Hão de estar no lugar que merecem. (Deverão)
Veja que aqui o verbo haver é conjugado normalmente, não pode ser substituido pelo verbo existir e nem está relacionado a "tempo".

Outro erro muito comum: "Não tenho nada haver com isto."
Forma corrreta: "Não tenho nada a ver com isto." (verbo ver e não verbo haver)


Espero ter colaborado.


Rose Selaro 0 6.9.09 - 14h29min

sábado, 5 de setembro de 2009

DICAS DE GRAMÁTICA

PSEUDO é uma palavra que não varia em hipótese alguma. Não tem plural nem feminino. Por isso, não existem "pseuda, pseudos, pseudas."



A expressão "Antes de mais nada", nada significa. O que há antes de mais nada? Nada. Use em seu lugar, "antes de qualquer coisa", "antes de tudo", etc., estas sim, são legítimas.



Rose Selaro
5.9.09 - 12h33min

terça-feira, 1 de setembro de 2009

O CELULAR DE CADA DIA

O CELULAR DE CADA DIA

Há muito venho atentando para a importância do celular em nossas vidas. Acho que eles são mais importantes que nossas vidas. Devem até ser enterrados conosco. Acho que do além túmulo será possível fazer “contato”. Haja vista não vivermos sem eles.

Domingo de sol, minha filha, adolescente bonita e eu entramos no metrô. Entram dois garotos de bermudão colorido, sandálias havaianas e camiseta cavada. Nós estámavos sentadas no banco dos bobos e eles do outro lado, à nossa frente. Um deles tira o celular do bolso como um troféu e o coloca para tocar, esses funks, punks, sei lá o que, já não era um celular, era um instrumento de conquista.

E assim tem sido. Concluí que aquele que não pode comprar um carro compra o melhor celular que seu bolso não permite e o paga em enéssimas prestões (se paga), e se sente realizado. O tal bichinho que foi feito para servir de telefone hoje serve mesmo é de status para o pobre. Ele o exibe como uma conquista. “Olha, eu não posso nada, mas tenho um celular bacana, cara!”

Inversão de valores típica do brasileiro. Não há que condená-lo. Não pode exibir conhecimentos adquiridos numa escola pública sucateada há tantos anos, nem modos refinados mesmo de uma família simples que ensinava os filhos a se portarem adequadamente, principalmente em locais públicos e terem educação – como por exemplo, ceder o banco cor de cinza aos mais velhos, no metrô, e não fingir que está dormindo.

Por estatística há no Brasil mais celulares que geladeiras e eu, a propósito dessa citação, me lembro que a primeira geladeira que chegou em minha casa quando eu era menina me causou um frisson da ordem que o celular causa hoje, eu só faltava dormir abraçada a ela e se chegava uma visita ia logo mostrar, sob os olhos severos de minha mãe “menina boba”.

Sintoma perigoso, nos sentimos inseridos, realizados, por tão pouco...

De quem será a culpa.

Que era medíocre e alienante substituirá esse tssunami que é o celular no Brasil. Causa-me desconforto e um certo medo essa banalidade que nos traga.

Rose Selro - 1º/9/09 - 23h44min

Eloquência do silêncio

Eloquentes as palavras que param na garganta. Por dois motivos. Ou porque doem quando ditas, ou porque já não importam.

O tempo da querência, da paixão, da necessidade de transformar esse silêncio em palavras para persuadir e se entregar passa, mas infelizmente não para remetente e destinatário ao mesmo tempo. Aquele que silenciou recomeça de alma limpa e o que espera uma palavra, patina, patina na espera, na angústia, até que um dia entende que esse silêncio lúgubre é a resposta e basta.
Loly Reis 1º/9/09