terça-feira, 1 de setembro de 2009

O CELULAR DE CADA DIA

O CELULAR DE CADA DIA

Há muito venho atentando para a importância do celular em nossas vidas. Acho que eles são mais importantes que nossas vidas. Devem até ser enterrados conosco. Acho que do além túmulo será possível fazer “contato”. Haja vista não vivermos sem eles.

Domingo de sol, minha filha, adolescente bonita e eu entramos no metrô. Entram dois garotos de bermudão colorido, sandálias havaianas e camiseta cavada. Nós estámavos sentadas no banco dos bobos e eles do outro lado, à nossa frente. Um deles tira o celular do bolso como um troféu e o coloca para tocar, esses funks, punks, sei lá o que, já não era um celular, era um instrumento de conquista.

E assim tem sido. Concluí que aquele que não pode comprar um carro compra o melhor celular que seu bolso não permite e o paga em enéssimas prestões (se paga), e se sente realizado. O tal bichinho que foi feito para servir de telefone hoje serve mesmo é de status para o pobre. Ele o exibe como uma conquista. “Olha, eu não posso nada, mas tenho um celular bacana, cara!”

Inversão de valores típica do brasileiro. Não há que condená-lo. Não pode exibir conhecimentos adquiridos numa escola pública sucateada há tantos anos, nem modos refinados mesmo de uma família simples que ensinava os filhos a se portarem adequadamente, principalmente em locais públicos e terem educação – como por exemplo, ceder o banco cor de cinza aos mais velhos, no metrô, e não fingir que está dormindo.

Por estatística há no Brasil mais celulares que geladeiras e eu, a propósito dessa citação, me lembro que a primeira geladeira que chegou em minha casa quando eu era menina me causou um frisson da ordem que o celular causa hoje, eu só faltava dormir abraçada a ela e se chegava uma visita ia logo mostrar, sob os olhos severos de minha mãe “menina boba”.

Sintoma perigoso, nos sentimos inseridos, realizados, por tão pouco...

De quem será a culpa.

Que era medíocre e alienante substituirá esse tssunami que é o celular no Brasil. Causa-me desconforto e um certo medo essa banalidade que nos traga.

Rose Selro - 1º/9/09 - 23h44min

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