sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

BOLA DE CHICLETE E DESEJOS

Já mascamos este ano. Chiclete de bola que ora deu certo ora estourou na cara. Vem um novo pra mascar, às vezes, mascarar - vai de cada um.

Nada muda, é só um dia depois do outro. Tudo muda, a mente comanda e tudo renasce. Os projetos, as dietas, os desejos.

Os desejos se potencializam. Para uns esmorecem e ficam para o próximo ano. Para outros se fazem verdades. Desejar é quase realizar. Depende da força do desejo.

Desejemos o impossível: Ir à lua, cruzar os mares num veleiro, Ser - como é difícil Ser!

Quem não tem desejos! Deseje ardentemente e lute. Mas não economize. Desejo é Vontade, É pura Vontade. Sonhe alto, grande, maravilhoso e num novo tempo dê-se este direito.

Entre em êxtase que a Vida responde. Êxtase é Verdade. Verdade é Vida.

Que 2011 seja de Verdade. Como bola de chiclete que se desprende e sai voando mundo a fora, sem rumo, pra nunca mais voltar.

Verdade não volta.

Rosy Selaro
31.12.2010
9h18min

sábado, 25 de dezembro de 2010

ROSELYS

ROSELYS

Estou passando pela síndrome do nome. Do meu nome. Arre que demorou. Já fiz tanta coisa nesta vida que não deu tempo de eu reparar neste Rosely. Espero que tenha sido só no nome (risos forçados dos orkuts da vida!! rsrsrs). Será que nunca reparei no meu nome? Ou nunca reparei em mim?

Gostaria de me chamar mesmo – Ana Carolina – eu seria Carol, Carô, Ana, sei lá, acho muito bonito. Eu não sou “bi e daí?”, também não canto, mas seria bonito mesmo! É, Ana Carolina! Ou quem sabe Angel. Aí ia ter sempre aquele negócio. “Como mesmo?” Angel? Alguém pra perguntar o que significa Angel – será que eu gostaria de ser anjo? Do pau oco? Meu passado me condena. Não sei. Não tenho cara de Angel. Mas gostaria.

Esta Rosely que está em mim, ainda com este Y e de quebra este Maria. Nome de velha né? Toda Sandra, toda Marisa, Márcia, Ana Maria e mais um monte. O nome não mente. Se bem que outro dia uma vendedora de loja me disse que se chama Rosely – e ela é muito jovem – claro que tinha uma história. Ela quase morreu no parto e a mãe dela homenageou a médica que a salvou. A médica se chamava Rosely – nome de velha - e o Sueli então! Sabe que pra mim é normal. Chamou de Sueli eu atendo e dou conta. Igual cachorro vira-lata, atendo por qualquer nome. E tem Rose também. E não é que um dia um rapaz, faz tanto tempo! Não me lembro quem, perguntou meu nome, eu disse: “Rose”. Ele me perguntou se era nome de guerra. Ah! Meu Deus. Voou pena pra todo lado. O que ele estava pensando que eu era? Uma galinha? A expressão voou pena pra todo lado é só uma expressão. Mas acho que o moço não sobreviveu aos meus ataques. Jovem, meio loura, dona do mundo. Deve ter sido uma catástrofe. Plenamente evitável!

Agora me assino Rosy Selaro. Por suposto o Y é meu e ninguém tasca. Está no meu nome e pronto. Eu coloco onde quero – com boa educação é claro. E Selaro é o sobrenome de meu digno pai, que eu honro hoje e sempre.

Rosely Maria Selaro (Passalacqua, por empréstimo). Tem coisa bem pior!

Mas já nesta altura reverencio minha mãe que me deu o nome da neta de um coronel que era vizinho dela. Maria, Mãe de Jesus, é por quem me ajoelho e ergo os olhos para o céu. Maria, Santa Maria Mãe de Deus, cuida de mim. Selaro que meus filhos carregam como eu os carreguei no meu ventre por nove meses.

Esta Rosely, esta Rosy, esta Zely – como diriam meu pai e minha irmã – esta Rosy é quem me faço. Fico com elas, suas glórias, suas mazelas. Essas anas carolinas, essas angels, não têm essa coisa renhida do meu por fora e do meu por dentro. Nós somos tantas e tão diversas! Condensadas no saber e na ignorância. Na bondade e na ira. No tudo e no nada. Na vida e na morte. Somos um feixe de Roselys.

Hoje me dou conta desta Rose, Rosy, Maria, Zely, Sueli, Rosely Maria e me aprumo e me arrumo. Faço meu nome. Não permitiria nunca que ele me fizesse.

E quando olho, e quando atento, e quando me pego Rosely de corpo inteiro me encho de beijos e abraços, de socos, de ódio, de amor. Rosely, Rosely! Cuida de ti. Do teu corpo, da tua alma, da tua mente, do teu espírito e luta para voltar à Pátria tendo cumprido ao menos metade da missão a que te propuseste cumprir. Essa Ana Carolina e essa Angel, liberto-as. Elas jamais dariam conta de tantas Roselys que há em mim.

Rosy Selaro
Em 3.11.2010 – 0h19min.
Postada em 25.12.2010 - 0h9min

Das vantagens de Ser Bobo - Clarice Lispector

Das Vantagens de Ser Bobo - Clarice Lispector

O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando."

Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.

O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.

Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranqüilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.

Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"

Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!

Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.

O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.

Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!

Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.




Este maravilhoso texto de Clarice Lispector me leva ao filme "Quem quer ser um Milionário" - que de certa forma aborda o mesmo tema. Nos leva a pensar! E quem sabe se esse texto monumental de Clarice não foi a inspiração da trama do filme?


Rosy Selaro

Escrever é Pensar

em 25.12.2010 - 10h36min