quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Resedá


Resedá

No fundo de minha casa
Na minha Sampa querida
Tem um tesouro cor de rosa.
Cheio de cachos, tantos todos,
Que a árvores sumiu.
Floresceu por demais  meu Resedá
E um cacho quero te dar.
 Espesso, dengoso, balançando uma beleza marota
Neste domingo chuvoso.
 As florezinhas brincam com os pingos e  se molham neles
Eles se perfumam delas, de um jeito inocente e ao mesmo tempo libidinoso
Pensando bem, um Resedá  cor-de-rosa viajou Eras pelo tempo
Pra vir ser meu contentamento
Não. Pensando  bem
Não vou te dar um  buquê. Nem uma flor sequer.
Resedás  são de todo especiais e não o mereces tanto assim...
Tenho por mim que hás de dizer que ele é um qualquer
 E eu o tomo no meu peito como único morador
Troquei com ele flores por minh’lma
Ramos  por meu Espírito.
É meu o caule, o verde submisso ao poder do rosa e Elas
Flores melindrosas  fazem reverência quando passo
Uma vira-se para mim cheia de garbo e detona a verdade:
Resedás não são flores para se dar.
Fazem da minha janela,  uma visão espetacular
Ah! Como eu queria aqui pra pintá-lo – Renoir!
  
.Rosely Maria Selaro –
13.1.2013 -20h16min


    

Madrugada


É madrugada quando me lembro de ti
Das  tuas mãos pequenas cuja linguagem
É deslizar por meu corpo
 Contornas meus lábios
Com teu dedo imperativo.
És minha. Sim, sou tua nas madrugadas
Quando não me esqueço de ti.
Passaste.  Foste e teu cheiro encarnou
Na madrugada.  Nas vidas passadas
E eu sei.  És perene em  mim.

Rosely Maria Selaro
14.11.12 – 18h41

Envelhecer


Envelhecer

Sabe, de uns tempos para cá. Acho que já faz bastante tempo, eu ando morta de inveja das mulheres que conseguem envelhecer. Usar aqueles bermudões largos e horríveis, aqueles blusões estampados que escondem as gorduras e que passam a se encantar com os netos e com a "participação nas coisas da terceira idade."

Saí à minha mãe. Que não se falasse nesta coisa para ela. Ela excomungava até!

Sou meio como o poema de Adélia Prado que se chama Trégua. Fico absolutamente estridente com um fio de cabelo branco e ai se me dão lugar no metrô! Eu, infelizmente, não sou velha.

Carrego comigo todos os fôgos (assim que eu quero, com acento circunflexo mesmo). O da Política, o das Artes. O fogo da Vida. O fogo das paixões. E vivo num redemoinho. Um corpo que envelheceu sim, mas não a ponto de ser abdicado. Esta paixão pela palavra que me campeia em cada cantinho onde me escondo e que me faz tão viva. A paixão pela paixão. Ah! Como é bom estar apaixonada! E ruim também. A paixão é beleza e feiura, é alegria e sofrimento, é entrega sem bermudão.

Tenho, realmente, muita inveja das mulheres que envelheceram. Mas quando me vejo usando (classicamente) o mesmo jeans, a mesma regata de minha filha de 17 anos perco a esperança. É uma dádiva e um castigo. Não sei bem em que percentual.

Não sei se conseguirei suportar o peso desta juventude tardia que me faz brilhar os olhos e sonhar como uma menina. Acho que me caso ainda de vestido branco com um príncipe. ( rsrsrsrsr) Não, infelizmente, como se fosse um estigma. Morro, mas não fico velha.

Talvez, eu tenha, inconscientemente, escolhido assim.

Rosely Maria Selaro ***

2/2/2013