domingo, 1 de março de 2009

Tutti e Nina, gatos do passado e do presente

Outro dia, à tardinha, parei bem perto do muro e peguei uma conversa da Nina:
Oi, tudo bem. Tudo. Quem é você? Eu sou a Nina da família. Meu pai me pegou de uma moça filha de um amigo dele. Eu estava perdida e ela me levou para casa, mas não podia ficar comigo, como o gato aqui da casa tinha morrido, meu pai me trouxe. Ah! Legal.

E você gosta de morar aqui? Gosto sim. Minha mãe é muito boazinha comigo. Me trata bem, me dá ração e quando ela mexe com carne sempre me dá uns pedacinhos. Acho ela um pouco triste. As coisas não andam muito bem por aqui. O nome dela é Ana Carolina, bonito né. E você? Quem é? Você tem um rabo tão bonito?

Acho que sim porque minha mãe dizia que eu mais parecia um gato acoplado num rabo.
Meu nome é Tutti. Tutti? Que nome engraçado, quem ti deu esse nome? Eu fui achado numa árvore em péssimas condições e meu pai me botou numa caixa e me levou para casa. O nome vem de um perseguido político do regime militar. Na verdade meu nome é Stuart Angel. Esse moço morreu nas garras da ditadura e a mãe dele Zuzú Angel denunciou a tortura e a morte do filho até sofrer um acidente de carro muito estranho, e ela morreu também. Por isso minha mãe me deu esse nome – em homenagem a Auzú Angel e seu filho Tutti - o que muito me orgulha. Mas fale mais de você e de sua família.

Meu pai é seu Roberto, ele é quieto e gosta muito de mim. É o primeiro a se levantar e me dar água, comida, me põe no quintal, ele conversa muito comigo sabe? Meu irmão, o Alexandre, entrou na USP. Cara foi um barato! Parece que a casa ia explodir de alegria. Eles não cabiam em si de contentes. Minha mãe contou pra todo mundo. Mas meu irmão mereceu, ele estudou muito. E eu sou tida como meio selvagem, só sento no colo do Alexandre, não sei dizer porque.. Minha irmãzinha é a Catarina, a gente chama ela de Kat, ela tem só 13 anos, mas está uma moça linda! Inteligente, ajuda minha mãe, uma gracinha.

Pelo jeito você gosta muito de sua casa não é Nina? Gosto sim Tutti, mas ando querendo mais liberdade. Minha mãe me coloca na varanda da frente da casa e por várias vezes tentei fugir. Gostaria de correr o mundo, ver coisas novas, conhecer outros gatos. Acredita que você é o primeiro gato que conheço?

É eu sei de tudo. Comigo foi assim também. Minha mãe tratou do molambo que eu era quando me pegaram, mas comecei a fugir por todos os lados da casa, não havia quem pudesse comigo. Eu também queria conhecer o mundo. Minha mãe fechou a casa pra eu não fugir depois tomou uma decisão radical: A partir de agora o Tutti é livre para ir e vir. Se tiver que morrer em baixo de um carro que morra, é um direito dele. Ele tem o direito de viver, ou morrer, em liberdade.

E foi o que aconteceu. Numa de minhas saídas um carro me pegou. Me levaram às pressas para o médico mas não deu tempo.

Tutti, você está querendo me dizer que está morto? Não gatinha... eu não estou morto, apenas estou em outra morada e você veio me substituir. Vim só visitar. E saiba de uma coisa: os animais são anjos disfarçados que Deus manda para a Terra.

Cuide bem de sua família. Tchau Nina seja feliz. Você vai voltar, Tutti? Não depende de mim Nina. Quem sabe?

Eles não me viram, meus olhos estavam marejados. Surpresa, não. Tudo dentro da normalidade.

Nina, vamos, é hora de entrar. E não me canso de repetir para mim mesma. “Odeio crepúsculos.”

2 comentários:

  1. Por isso que quando ouço alguém disser -"não quero mais bichos, quando eles morrem é muito sofrimento" eu sempre respondo: -"porque não lembrar da alegria que ele foi em sua vida por muito tempo, se seu animalzinho morreu, foi para outro ter a chance de dar alegria p´ra você"

    Parabéns pela iniciativa Rosely...

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  2. Linda msg Rosely... os animais são nossos melhores amigos e companheiros pq nunca se revoltam contra nós, mesmo que briguemos com eles. Eles nos amam incondicionalmente!

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