segunda-feira, 30 de março de 2009

PARALELAS

Forçosamente cruzavam olhares todos os dias,
Tinham um passado não passado
Que forçosamente cruzava o presente todos os dias.
Foram sóis, foram luas, foram chuvas
Todos os dias cruzavam olhares e chegavam e partiam.
Meses, anos, rugas, todos os dias...
Paralelas que impediam tudo
Menos passado e olhares.
Não esperavam, se conformavam.
O passado, os erros, as paralelas, a fatalidade.

Um dia ele não veio
Ela esperou, desesperou
Pulou de dentro de si
Porque vivia daqueles olhares
Dos sóis, das luas que iam e vinham.

Ela esperou até o último momento.
Ele nunca mais voltou.

Na estrela que lhe fora designada
Ele lá estava - não forçosamente -
Jovem, olhos brilhantes
Ela de rosa esvoaçante
Nada forçosamente
São felizes para sempre - noutra dimensão.

Rose Selaro - 2.2.04

FRAÇÃO

QUISERA ESTAR AQUI,
TODA AQUI.
NÃO. ESTOU AOS PEDAÇOS
NUM QUEBRA CABEÇA É QUE ME FAÇO.
NUNCA SOU INTEIRA
NÃO HÁ TOTAL, SÓ FRAÇÃO,
ÀS VEZES SOMA OUTRAS SUBTRAÇÃO.
INQUIETAÇÃO COMO SE JAMAIS
HOUVESSE CAMA PARA MEU CORAÇÃO.

ROSE SELARO - 25.12.03

DICA DE GRAMÁTICA (DIFÍCIL DE ACERTAR)

ESTA QUASE NINGUÉM ACERTA. Aí vai um desafio para quem quiser testar seus conhecimentos de língua Portuguesa. Trata-se de um teste realizado em um curso na American Airlines. Na frase abaixo deverá ser colocado um ponto e duas vírgulas para que a frase tenha sentido. (coerência). PENSE antes de ver a resposta que está no final da página. Afinal, assim não seria um teste.


MARIA TOMA BANHO PORQUE SUA MÃE DISSE ELA PEGUE A TOALHA.


OBS.: pense, não olhe a resposta antes de tentar acertar .










RESPOSTA:

Maria toma banho porque sua. Mãe, disse ela, pegue a toalha.


A 'pegadinha' está no fato do uso do verbo suar, confundindo com o pronome possessivo (sua).

quarta-feira, 25 de março de 2009

DICAS DE TÉCNICAS DE REDAÇÃO - EXEMPLOS DE PARÁGRAFOS EFICAZES

O parágrafo é unidade de composição: Constituído de três partes fundamentais para obter coerência e coesão.

Analise a riqueza dos parágrafos abaixo. Esses três elementos estão absolutamente explícitos por Ricardo Azevedo e Cecília Meireles.

Além da beleza, a coerência é marcante.

Exemplo de Parágrafos

Seis amigos estão sentados na calçada. ( I ) (D) A tarde vai chegando ao fim. No portão de uma casa, do outro lado da rua, aparece uma velhinha de óculos, chinelos e vestido azul de bolinhas brancas. Cada um diz o que pensa. ( C ) Surgem seis opiniões diferentes a respeito da mesma vizinha.

Ricardo Azevedo - “ Uma velhinha de óculos, chinelos e vestido de bolinhas brancas -
Companhia das Letrinhas, 1998. p.3


Houve um tempo em que a minha janela se abria para um chalé. ( I )
Na ponta do chalé brilhava um grande ovo de louça azul. Nesse ovo costumava pousar um pombo branco. Ora, nos dias límpidos, quando o céu ficava da mesma cor do ovo de louça, o pombo parecia pousado no ar.(desenv.até aqui) ( C ) Eu era criança, achava essa ilusão maravilhosa.

Cecília Meireles. “Escolha o seu sonho: Crônicas. Rio de Janeiro: Record, p. 24





Rose Selaro – 25.3.09

POEMA - "CHEIRO"

CHEIRO

O ar desde cedo
Ornado com aquele cheiro
Que invadia meu coração inconsciente.
À noite a gente comia
Cantava, trocava presentes,
Estavam todos,
Até Papai Noel.
A gente se enganava
Que era criança
O tempo...Parado!
Tudo acabou
A raiz arrancada
Carregou os cheiros.
O tempo acordou
E não dormiu mais
Reinvento se quero viver
Preciso refazer aquele cheiro.


Rose Selaro – 4.1.08

segunda-feira, 23 de março de 2009

DICAS DE REDAÇÃO

DICAS DE GRAMÁTICA



ACERCA DE (TUDO JUNTO) – significa, a respeito de, sobre tal assunto

CERCA DE (com o artigo definido “a” separado) significa –aproximadamente, perto de

Há cerca de - faz aproximadamnte


Ex: Acerca de assuntos do coração, a razão pode muito pouco.
Cerca de 30 pessoas estiveram no evento.
Há cerca de meses nos vimos.


Diferença sutil que muda todo o significado da frase.

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A palavra certa é “XIFÓPAGO” – monstro originado da ligação de dois indivíduos na região do tórax, também de pessoas intimamente unidas por inclinação ou temperamento.

COMUM OUVIRMOS OU FALARMOS “XIPÓFAGOS


Novo dicionário da Língua Portuguesa – Aurélio Buarque de Holanda

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DICAS DE GRAMÁTICA


Comum conjugarmos a primeira pessoa do plural do verbo “Vir” no passado, como se fosse tempo presente.

Vejamos:


Presente do Indicativo Pretérito Perfeito do Indicativo

Eu venho Eu vim
Tu vens Tu vieste
Ele vem Ele venho
Nós vimos Nós viemos
Vós Vindes Vós Viestes
Eles Vem Ele vieram


Portanto:

Ex – Nós vimos aqui hoje para falar de amor.
Nós viemos aqui ontem para falar de amigos.


Erro comum que deve ser evitado.

OCO

OCO

Um oco. No peito. No estômago. No coração. A felicidade está no outro. Às vezes o outro é tão pouco, mas a gente insiste e se contenta com tão pouco, de medo do oco. Será que ele me cuida? Me acarinha? Me ama? Dá ânimo pro meu desânimo. Dá fim nessa vontade de nada fazer porque se é oco.

Só como se tanto se tem? Família, cachorro, papagaio, milhões de problemas, mas é tudo oco. Como se a gente fosse casca de ovo e vivesse quebrando, precisando da aprovação, do cuidado, da paixão, do amor, do outro.

Doença? Acho que sim. As mulheres parece que sofrem mais desse oco. Com o passar do tempo ele aumenta. O oco agora é uma missão. Um karma que você tem que cumprir e dói. Duro é que dói.

Vai passando, passando, aquelas rugas sorriem sarcasticamente e dizem com voz de deboche. “Não procure o felicidade no outro”. Sempre procurei e não achei. Quantas coisas não fiz, em quantos lugares não fui. Quanto sofri inutilmente pelo outro. Quando o outro não me cuidou, não se apaixonou, nem me amou e a página virou.

Patina, quando é crepúsculo que parece que emudece, lança uma nevoa na alma e a gente precisa mais da mão do outro, do consolo do outro, do carinho do outro, do amor do outro para ter identidade. Eu sou o outro.

Nada sei disso. Sinto, sinto o oco, no estômago, na garganta e no coração, mas já não brigo nem me obrigo.

Virá esse outro? Aposto que não. Uns lidam bem com essa solidão e outros caem no oco, tão oco que a membrana é de lágrimas derramadas por um outro que está inteiro e se basta.

Não há armas, não há luta a travar. Só o tempo, o tormento e o oco que você bate e faz barulho de oco. Uma coisa perdida. Perdeu-se o corpo. Perdeu-se o tempo. Perdeu-se a alma e o espírito vaga. Oco, tão absolutamente oco.
Rose Selaro – 23.3.09

domingo, 15 de março de 2009

BODAS

BODAS

Dos cinco filhos de Dona Madalena e seu Camilo Ana é o arroz de festa, o pé de valsa. Dona de casa convicta, à moda antiga, roupa branca de doer nos olhos, toalhinhas com biquinhos de crochê nas prateleiras dos armários, mas a capacidade de organizar festas.... ah! Ana é imbatível. Perigo ela organizar festa até em velório. Rédia na criatura!

Mas, mas, mas, a efeméride estava muito próxima. Bodas de Ouro dos Pais – Da. Madalena e Seu Camilo. Por quanto tempo esperara para comemorar essa data.

Telefonou para os 4 irmãos, 5 com ela, e marcou reunião em casa da mãe. Avisada por último. Dia e hora aprazados todos estavam lá.

A sala era a mesma da infância, o sofá já roto agora coberto com uma manta, a pintura desbotada, as cortinas com remendos imperceptíveis e lembranças que todos tinham. Seu Camilo não era de brincar, haja vista a casa, corroída pelo o tempo. Pra que gastar dinheiro à toa.

Bem, todos a postos com um cafezinho e Ana, dona do cerimonial destampou. Seria assim, seria assado, tantos convidados, missa em tal igreja, papai vai assim, para mamãe fazemos um vestido com um pouquinho de dourado – afinal a data pede – o bufet, já com três orçamentos em mãos. E mosca não se ouvia.

Quando Aninha parou de falar já fatigada pelos 100m rasos que acabara de correr só fez perguntar a cada u m dos irmãos se estavam de acordo. Não houve resistência a nada. O pai consultado. Dentro de seu pijama tão velho quanto a sala fez um gesto de “de acordo” sem dizer palavra.

D. Madalena, ah! Da. Madalena, se eles soubessem... Era dela a palavra final.

Clara de pele, uns 75 anos, os cabelos brancos amarrados num coque na altura da nunca e um ar de quem vivera num sistema de defesa, absorvendo a sabedoria das menores coisas. Tinha a resposta no olhar. Houve um silêncio, codificado... Todos conheciam muito bem Da. Marcelina. Ou não?

E assim foi seu desfecho: “Vivo com o pai de vocês há 50 anos. Lavo, passo, criei vocês cinco, cozinho, mantenho tudo arrumado. Eu e seu pai dormimos em quartos separados há uns 20 anos, falamos um com o outro o necessário. Nunca viajamos, recebo a visita de vocês e sabia que esta data não passaria em branco.

Não haverá festa. Ana quis argumentar. Não pôde. Não suportou aquele olhar definitivo que conhecia desde menina.

João Pedro, muito arguto, no íntimo sabia qual seria a reação da mãe. Foi o primeiro a se levantar, beijou e abraçou carinhosamente a mãe, abraçou o pai (homem não beija homem) dizia sempre seu Camilo, alegou um compromisso para dali a meia hora e se foi. Cada um foi saindo e assim “não” se comemoraram as Bodas de Ouro de Da. Madalena e Seu Camilo.

Passados uns dois anos seu Camilo faleceu. As visitas à Da. Madalena eram de pesar e instigada por uma dessas pessoas que demonstram sofrer mais que o parente do morto, respondeu ela: “Não se preocupe comigo estou bem. Levanto a hora que quero, como a hora que quero, faço o que quero, não tenho reclamações, nem lamentações a fazer. É a vida. Parece que finalmente Da. Madalena adquirira asas.

Sou professora de técnicas de redação e levo às vezes algum tempo para explicar a meus alunos o que é “coerência”. Acho que a partir de agora não terei mais dificuldades.
Loly Reis 15.3.09

terça-feira, 10 de março de 2009

NASCE O BLOG "ESCREVER É PENSAR"

O Blog “Escrever é Pensar” tem seu nascedouro no domingo 15.2.2009 com a finalidade de dar suporte ao Curso de Redação “Escrever é Pensar”. É dedicado aos meus amigos e meus alunos e gostaria que fosse um ponto de encontro.

Aqui quero deixar minhas idéias em forma de prosa e poesia e aqui quero interagir. Aqui traremos autores e suas obras. Gostaria que o Blog fosse recheado de crônicas, poemas, falas de todos os gêneros. São bem vindos todos que derem uma paradinha no “Escrever é Pensar”. Como diria Tim Maia “Vale Tudo”, desde que some, ou seja, uma informação que se torne conhecimento e que passe a fazer parte do nosso repertório e que fatalmente se tornará escrita de boa qualidade. Essa é a forma (não a fórmula), do “Escrever Bem”.

Comentários, sugestões, idéias a serem debatidas, tudo o que nos possa acrescentar e porque não uma piada, divertir também vale...

Afinal, vive mais e melhor aquele que se aproxima mais da piada que do fogo cruzado.

A cada dia darei informações sobre técnicas de redação e dicas de gramática, que muitas vezes nos atormentam e ficam sem resposta. Fico à disposição para receber perguntas, ( tentarei ao máximo respondê-las).

Por que “Escrever é Pensar”? Esse verbo ser (é) que utilizo para dar nome e direção a este trabalho é fruto de uma constatação.

“Só escreve bem quem pensa bem” E como pensar bem? Vivendo! É a resposta. Buscando conhecimento acadêmico, boa leitura, questionar o mundo que nos rodeia e refletir sobre assuntos importantes que na maior parte das vezes passam por nós sem sequer ser registrados.

Por que “Pensar bem”? Sim , Pensar Bem antes de Escrever. Antes de deitar ao papel palavras que precisam de coerência e conteúdo para tocarem seu leitor.

Tocar o leitor. Eis a questão. O leitor espera isso desse emissor que se utiliza da linguagem. Que ele traga uma mensagem capaz de levá-lo a refletir. Só refletindo conseguiremos escrever com eficácia.

Assim é: Um pensa e escreve. Outro lê, e essa leitura sistêmica mais as técnicas de redação que precisam ser postas em prática nos levam à comunicação.

Nasce o “Blog Escrever é Pensar”, com esse propósito. Incitar cada vez mais alunos, profissionais liberais e todos os que se valem da linguagem, a ter um espaço para refletir, pensar e escrever.

O benefício certamente será de todos nós.

domingo, 1 de março de 2009

Tutti e Nina, gatos do passado e do presente

Outro dia, à tardinha, parei bem perto do muro e peguei uma conversa da Nina:
Oi, tudo bem. Tudo. Quem é você? Eu sou a Nina da família. Meu pai me pegou de uma moça filha de um amigo dele. Eu estava perdida e ela me levou para casa, mas não podia ficar comigo, como o gato aqui da casa tinha morrido, meu pai me trouxe. Ah! Legal.

E você gosta de morar aqui? Gosto sim. Minha mãe é muito boazinha comigo. Me trata bem, me dá ração e quando ela mexe com carne sempre me dá uns pedacinhos. Acho ela um pouco triste. As coisas não andam muito bem por aqui. O nome dela é Ana Carolina, bonito né. E você? Quem é? Você tem um rabo tão bonito?

Acho que sim porque minha mãe dizia que eu mais parecia um gato acoplado num rabo.
Meu nome é Tutti. Tutti? Que nome engraçado, quem ti deu esse nome? Eu fui achado numa árvore em péssimas condições e meu pai me botou numa caixa e me levou para casa. O nome vem de um perseguido político do regime militar. Na verdade meu nome é Stuart Angel. Esse moço morreu nas garras da ditadura e a mãe dele Zuzú Angel denunciou a tortura e a morte do filho até sofrer um acidente de carro muito estranho, e ela morreu também. Por isso minha mãe me deu esse nome – em homenagem a Auzú Angel e seu filho Tutti - o que muito me orgulha. Mas fale mais de você e de sua família.

Meu pai é seu Roberto, ele é quieto e gosta muito de mim. É o primeiro a se levantar e me dar água, comida, me põe no quintal, ele conversa muito comigo sabe? Meu irmão, o Alexandre, entrou na USP. Cara foi um barato! Parece que a casa ia explodir de alegria. Eles não cabiam em si de contentes. Minha mãe contou pra todo mundo. Mas meu irmão mereceu, ele estudou muito. E eu sou tida como meio selvagem, só sento no colo do Alexandre, não sei dizer porque.. Minha irmãzinha é a Catarina, a gente chama ela de Kat, ela tem só 13 anos, mas está uma moça linda! Inteligente, ajuda minha mãe, uma gracinha.

Pelo jeito você gosta muito de sua casa não é Nina? Gosto sim Tutti, mas ando querendo mais liberdade. Minha mãe me coloca na varanda da frente da casa e por várias vezes tentei fugir. Gostaria de correr o mundo, ver coisas novas, conhecer outros gatos. Acredita que você é o primeiro gato que conheço?

É eu sei de tudo. Comigo foi assim também. Minha mãe tratou do molambo que eu era quando me pegaram, mas comecei a fugir por todos os lados da casa, não havia quem pudesse comigo. Eu também queria conhecer o mundo. Minha mãe fechou a casa pra eu não fugir depois tomou uma decisão radical: A partir de agora o Tutti é livre para ir e vir. Se tiver que morrer em baixo de um carro que morra, é um direito dele. Ele tem o direito de viver, ou morrer, em liberdade.

E foi o que aconteceu. Numa de minhas saídas um carro me pegou. Me levaram às pressas para o médico mas não deu tempo.

Tutti, você está querendo me dizer que está morto? Não gatinha... eu não estou morto, apenas estou em outra morada e você veio me substituir. Vim só visitar. E saiba de uma coisa: os animais são anjos disfarçados que Deus manda para a Terra.

Cuide bem de sua família. Tchau Nina seja feliz. Você vai voltar, Tutti? Não depende de mim Nina. Quem sabe?

Eles não me viram, meus olhos estavam marejados. Surpresa, não. Tudo dentro da normalidade.

Nina, vamos, é hora de entrar. E não me canso de repetir para mim mesma. “Odeio crepúsculos.”