domingo, 5 de junho de 2011

CREPÚSCULO

CREPÚSCULO
Difícil mudar de casa depois de tantos anos. No crepúsculo.

É crepúsculo agora e me dá uma pontada no coração. Eu sei que por aqui vou pouco crepuscular. Chegou a hora. Ora! Por que tanta surpresa? Um dia tinha que acabar!

Este crepúsculo é diferente. Muita vida e muita morte vivi por aqui. Aflição, desilusão e mais um dia, e outro, mais outro, e uma ruga, um cabelo branco e eu joguei a toalha.

Venham crepúsculos, venham crepuscular. Me arremedam porque fui vencida? Porque eu não soube ganhar? E vocês voltam, inexoravelmente, quando morre o dia, pra me asfixiar. Tento um choro que a garganta engole e me agarro na liberdade da noite que me salva e me lembra que és muito curto, mas cruelmente tentas todos os dias me enredar nas tuas teias pra me derrotar.

Vou agora crepuscular noltro lugar. Vou com as derrotas. Na bagagem levo um saco de memórias e vou fazer vida por lá.

Crepuscule sempre, todo dia. Me farei de sonsa e ainda pego minha toalha. Perdi só uma batalha, vou ganhar a guerra, mesmo que crepuscules. És nada porque deixo aqui minhas dores e os meus temores e numa caixinha levo expectativas e esperanças. Se eu não ligar pra ti, que importância terás?

Estarei ocupada com as noites, com os dias, e és tão efêmero – monstro que assusta criancinha – não mais me poderás assustar.

Vou embora pra Passárgada. Lá sou amigo do Rei. Pego minha toalha, minha espada, ergo-a na hora tua e ti desafio: Se és mesmo crepúsculo, vem, vem então crepuscular.

Rosy Selaro
Curso de Redação “Escrever é Pensar”
14.5.2011

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