domingo, 9 de fevereiro de 2014

PASSARADA


A passarada assenhoreou-se da janela porque sabia, dentro dela estava eu. Naquele quarto, naquela cama, entregue a sonhos. Olhos lavados de um pranto consumado por realidades tão distantes.

Chorei. Chorei tanto que me desfiz e escorri até a janela. Olhando por uma fresta dela vi a passarada alegremente cantando. Piava. Gorjeava e abarrotava de cores aquela minha tosca janela.

Percebi a passarada porque o dia raiava e com ele o sol, o calor, rumores, dores, amores...

Reparei no dia nascido e num impulso, nas derradeiras forças do meu corpo, abrí, intrepidamente minha janela e saí por ela.

Voei ritmada junto da passarada sobre bosques, lagos, cidades e me pus a rir de mim mesma. Quanto tempo perdido, quanta vida guardada.

Abre as janelas de tua vida e sai voando. Se tombares, levanta tantos voos quantos possa. Se te consomes como eu, por tudo, por nada,
serás uma vaga lembrança de quem jaz atrás de uma mera janela.

 O mundo é a janela. A vida é fora dela. Hoje sou pássaro – canto nas manhãs em todas as janelas de quem quer asas para alçar vôo.

Rosely Maria Selaro

9.7.12      

Nenhum comentário:

Postar um comentário