A passarada assenhoreou-se da janela porque sabia, dentro
dela estava eu. Naquele quarto, naquela cama, entregue a sonhos. Olhos lavados
de um pranto consumado por realidades tão distantes.
Chorei. Chorei tanto que me desfiz e escorri até a janela.
Olhando por uma fresta dela vi a passarada alegremente cantando. Piava. Gorjeava
e abarrotava de cores aquela minha tosca janela.
Percebi a passarada porque o dia raiava e com ele o sol, o
calor, rumores, dores, amores...
Reparei no dia nascido e num impulso, nas derradeiras forças
do meu corpo, abrí, intrepidamente minha janela e saí por ela.
Voei ritmada junto da passarada sobre bosques, lagos,
cidades e me pus a rir de mim mesma. Quanto tempo perdido, quanta vida guardada.
Abre as janelas de tua vida e sai voando. Se tombares, levanta
tantos voos quantos possa. Se te consomes como eu, por tudo, por nada,
serás uma vaga lembrança de quem jaz atrás de uma mera
janela.
O mundo é a janela. A
vida é fora dela. Hoje sou pássaro – canto nas manhãs em todas as janelas de
quem quer asas para alçar vôo.
Rosely Maria Selaro
9.7.12
Nenhum comentário:
Postar um comentário