quarta-feira, 14 de agosto de 2013

MULHER LINEAR


Tu careces de uma mulher linear. Dessas que lavam o chão e não deixam ninguém pisar. Dessas de raso coração. Uma mulher que tu possas manusear. Uma jovem mulher. Casadoira. Talvez ruiva. Talvez loira. Não tão bonita – para não te sombrear. Tu careces uma mulher que não faça versos. Que não seja poeta. Tu precisas de uma mulher que reze. Ajoelhe é reze para ti dez pais-nossos e vinte ave-marias. Mulher de família grande. Cheia de folia. Tu não suportas uma mulher de entranhas. Uma mulher muito estranha. Ama num dia. Noutro deixa de amar. Mas volta logo, correndo a te buscar. As mulheres poetas deixam a alma vicejar. São meio santas. Um tanto loucas. Isto é um peso. Tu não o podes carregar. Olha: De coração, eu desejo: Fica com tua mulher. Qualquer uma que te deixe brilhar. Eu estarei pendurada na lua a te olhar. Se estou triste? Sim. Poetas são tristes. São alegres. Um redemoinho. Desmascaram a alma e não vais suportar. Carregas o que podes – e a parte que suportas é só, apenas e tão somente, tua mulher linear.

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